Meu primeiro contato com Vaélico se deu através de uma palestra de Karla Arakantobuna, Vate da Ordem Druídica Ramo de Carvalho, da Clareira Derweriom e autora do blog O Bosque da Suindara (que traz uma excelente introdução sobre o deus-lobo em http://ocantodasuindara.blogspot.com/2017/07/deus-vaelico-magia-na-iniciacao.html), na Convenção de Magos e Bruxas de Paranapiacaba de 2017. Eu já havia desenvolvido um interesse pelas deidades da antiga Ibéria, mas ainda não conhecia Vaélico. Seu nome me era familiar, graças à comum associação feita sobre Ele e o lusitano Endovélico (se quiserem saber mais sobre ele, recomendo o blog O Bosque do Javali, particularmente as 30 Semanas Para Endovélico, escritas pelo seu devoto, Endovelicon: http://obosquedojavali.blogspot.com/2014/07/30-semanas-para-endovelico.html).
Quando me foi apresentada uma deidade associada à figura do lobo (tão relevante às tradições ibéricas), eu estava entrando em terreno desconhecido, quase como uma escura caverna onde antigos guerreiros de confrarias da antiga Ibéria adentrariam para passar por suas iniciações. Qual não foi a minha surpresa, terminada a parte teórica da palestra, de sentir uma certa familiaridade com a essência de Vaélico durante a vivência que veio a seguir. Não saberia dizer nunca se foi algo ancestral ou apenas uma afinidade quanto às sensações que me surgiram durante ela. De fato pude perceber algo antigo, potente, visceral, transformador, que parecia estar dormente há muito tempo. Senti que o entendi. Senti que Ele não deveria retornar ao esquecimento novamente. E não retornou.
Desde então Vaélico tem permanecido próximo às minhas práticas. Arakantobuna, a mesma Vate que primeiro me trouxe o conhecimento sobre o deus-lobo, tem feito um rico trabalho ao trazer algo de devoção aos deuses ibéricos para os nossos ritos, criando um elo de ligação com uma ancestralidade muitas vezes esquecida pelos pagãos brasileiros. A presença de Vaélico se tornou cada vez mais forte e intensa nas nossas atividades e muitos dos presentes têm relatado experiências transformadoras nos nossos rituais. Claro que foi necessário buscar por mais informações sobre Vaélico. Infelizmente, como ocorre com muitas deidades ibéricas, as informações são escassas, apenas permitindo fazer algumas deduções e elocubrações, mas com poucas certezas e conclusões.
Isso é sempre frustrante quando falamos de uma deidade à qual buscamos prestar culto. Mas onde as informações acadêmicas são escassas, é sempre possível permitir que o conhecimento que temos, mesmo que parco, guie nossa inspiração e unir a nossa experiência espiritual pessoal ao conjunto (desde que sabendo diferenciar uma da outra, obviamente). E é o que temos feito, não apenas dentro da Ordem Druídica Ramo de Carvalho, mas em várias partes do mundo.
Obviamente, não sabemos se um dia teremos confirmação para todas as nossas inspirações, mas Vaélico definitivamente não é mais uma deidade esquecida. Seu culto hoje renasce, não apenas na sua Ibéria ancestral, mas também no além-mar. A experiência com Ele tem trazido força e inspiração, manifestações poderosas, magia, ensinamentos e transformações. Ao que parece, Vaélico veio para ficar, para nunca mais ser esquecido. E esperamos que ele seja para sempre honrado.
Slanya tei, a Vaelice!