Vaélico, Semana 6: Panteão

Como citamos anteriormente, Vaélico é um deus que era cultuado pelo povo dos Vetões, que viviam nas terras que correspondem à atual fronteira nordeste e leste de Portugal, adentrando o território da Espanha. No passado, suas fronteiras eram com as terras dos Lusitanos, dos Astures e dos Galaicos. Por isso é normal que o culto de algumas dessas deidades fossem partilhados entre esses povos, principalmente nas regiões de fronteira, uma vez que eles interagiam constantemente entre si. O panteão vetão, especialmente, se confundia algumas vezes com o panteão lusitano, graças à proximidade e alianças constantes entre tais povos. 

Como todos já devem ter percebido, é difícil conhecer o panteão vetão na sua totalidade. São deidades que conhecemos principalmente pelas inscrições posteriores ao período romano, encontradas nos territórios habitados por esse povo. Muitas das deidades surgem em registros de outras regiões, particularmente em território lusitano, mas por vezes também em território galaico e ásture. E todas elas sofrem com a mesma ausência de mitos registrados, bem como informações diretas de seu culto. Em todos os casos, temos de nos ater à sua iconografia, à etimologia dos seus teónimos, seus epítetos, aos ex-votos feitos em sua honra, ao que era pedido a elas, às comparações feitas pelos romanos. É fato que dificilmente conheceremos esse panteão antigo na sua totalidade, mas ao menos é possível reconhecer algumas das deidades que dele faziam parte:

Arentio e Arentia: uma deidade em que há uma dúvida sobre se estamos falando de uma entidade masculina, feminina ou de um casal divino. Seu culto se concentra em território lusitano, mas se estende também às terras vetãs. Associados principalmente a cursos d’água, saúde e prosperidade. 

Ataegina: deusa cultuada principalmente em território lusitano, mas também vetão. Deusa do renascimento, provavelmente de caráter primaveril. Sincretizada com Prosérpina, alguns a associam a um deus do Submundo, o que fez surgir a sugestão de que ela formava um casal divino junto a Endovélico.

Bandus: deus guerreiro conhecido principalmente na região do rio Ulla, mas cultuado em território vetão, lusitano e galaico. Associado não apenas à guerra e aos guerreiros, mas muitas vezes visto como um deus guardião dos juramentos e acordos sociais, além de um protetor das comunidades.

Ilurbeda: deusa vetã, associada principalmente à mineração e à prosperidade que surge do interior da terra. Talvez graças a isso ela possa ser também considerada uma deidade ctônica, e possivelmente também ligada aos ofícios em geral. Além disso, é uma deidade ligada aos caminhos e estradas, e talvez uma guia entre os mundos.

Laribus: não é uma deidade em si, mas um conjunto de deuses e espíritos protetores dos lares. Provavelmente teriam um nome nativo antes da assimilação romana.

Nábia: deusa cultuada principalmente no território galaico, mas também no lusitano e parte do vetão. Deusa da Soberania, associada com a primavera e a pulsão da vida, ligada a todos os Três Reinos, mas particularmente aos cursos d’água. Ela é uma guardiã dos Castros (comunidades típicas dos povos galaicos, normalmente localizadas em pontos elevados, como colinas e montanhas) e foi sincretizada com Diana pelos romanos, além de ser um psicopompo, uma deidade que faz a passagem entre os mundos. 

Netoni: possivelmente um equivalente do oeste ibérico para o deus Neton, que foi equiparado tanto com Marte quanto com Apolo, sendo que o cronista Macrobius atesta o seu caráter solar. Seu nome significa “guerreiro” e “campeão”, o que confirma seu provável aspecto de deus da guerra. Equiparado por alguns ao irlandês Neit. Cultuado entre Vetôes, Lusitanos e mesmo entre povos ibéricos de origem não-céltica.

Reue: deus celeste associado aos relâmpagos e tempestades, considerado um dos deuses altíssimos entre os Galaicos, mas cultuado também em território lusitano, particularmente no leste, onde estava a fronteira com os Vetões (por isso foi aqui incluído). Reconhecido também sob o nome de Larouco, muitos o associam à figura ibérica do Nubeiro, fazendo dele uma das deidades cujo culto era tão presente que permaneceu vivo no folclore, mesmo após a cristianização.

Trebaruna: deusa cultuada em território lusitano e vetão. Seu nome significa “Segredo da Casa” e “Mistério da Casa” e ela é associada à proteção do lar, da família, mas também à magia e aos mistérios. Também uma deusa do fogo doméstico e dos cursos d’água.

Estas obviamente não são as únicas deidades cultuadas em solo vetão. Há muitas outras sobre as quais sabemos muito pouco além de seus nomes registrados em aras votivas. Aerbino, Aiioadcino, Asitrita, Loemina, Moricilo, Siluano e muitos outros deuses entram nessa categoria.Talvez seja possível intuir algo sobre seu caráter a partir dos seus teónimos e do que foi descoberto sobre seus elementos de culto, mas poucos foram os que se aprofundaram o bastante no caso de tais divindades. E este também não é o nosso objetivo aqui. Aqui vocês já tem uma introdução sobre os deuses cultuados pelos povos vetões (e lusitanos e galaicos). Creio ser o suficiente por enquanto.

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